REGRAS E REGULAMENTOS
A PROPÓSITO DO BUCHHOLZ

Uma das maiores curiosidades em termos de arbitragem nos últimos tempos tem andado à volta do Buchholz, daí que me pareça interessante esclarecer alguns aspectos a este respeito.

A primeira questão tem a ver com a própria definição de Buchholz. Com efeito, habitualmente entende-se Buchholz como a soma da pontuação dos adversários, um conceito introduzido pela FIDE, mas que não corresponde à definição exacta de Buchholz, mas sim a um outro sistema de desempate, que os mais antigos ouviram falar que é o Solkoff, inventado pelo norte-americano Ephraim Solkoff em 1949.

O Buchholz foi inventado pelo alemão Bruno Buchholz, e terá sido aplicado pela primeira vez em 1932. A sua discrição, tanto quanto pude apurar, foi publicada pela primeira vez no Ranneforths Schachkalendar de 1933. De acordo com a definição do sistema (que pode ser encontrada, por exemplo no The Oxford Companion to Chess ou no Larousse du Jeu D'Echecs), o Buchholz corresponde à multiplicação da pontuação de um jogador, pela soma das pontuações dos seus adversários.

Por razões que a razão deconhece a FIDE adoptou a terminologia Buchholz para o Solkoff, o que pode originar alguma confusão a quem vá jogar, por exemplo, torneios a França ou ao Reino Unido, onde permanece a terminologia original.

Surgiram adaptações do Solkoff/Buchholz, o mais conhecido é o sistema Harkness, proposto pelo norte-americano Kenneth Harkness, segundo o qual se devia calcular uma mediana do Buchholz. Assim num torneio suiço com menos de 7 sessões, devem ser retirados o melhor e o pior resultado dos adversários, de 8 a 12, os 2 melhores e os 2 piores, mais de 13 rondas, os 3 melhores e os 3 piores.

Isto decorria do facto de ser comum nos torneios de sistema suiço haver partidas não jogadas, por faltas nas primeiras sessões, abandonos ou "bye". Pouco depois, talvez o próprio Harkness (era uma organizador muito empenhado, que inclusivamente inventou um sistema de ranking, que foi adoptado pela federação norte-americana entre 1950-1960 - antes do Elo), verificou que tal não era suficiente, introduzindo a noção de Solkoff/Buchholz corrigido, no sentido de ajustar o resultado do Solkoff/Buchholz, de forma a o tornar mais justo. Houve várias versões desta "correcção", causando alguns diferendos, que seriam resolvidos quando em 1989 a FIDE tomou a decisão de definir o seguir factor de correcção: por cada partida não jogada, cada adversário marca meio-ponto, para efeitos do Buchholz. Isto significa, por exemplo, que um jogador ALPHA, que faltou à primeira sessão e desistiu de um torneio de suiço com 7 sessões, para efeitos do Buchholz corrigido, conta como tendo obtido um "score" de 3,5 pontos.

Além do sistema Harkness, há ainda dois outros sistemas que podem ser usados com base no Solkoff/Buchholz: O Sistema Brasileiro, em que apenas se retiram os piores resultados, nas mesmas proporções do Harkness, e o Sistema Jugoslavo, em que apenas se têm em conta os resultados corrigidos dos adversários que tenham realizado pelo menos 50% dos pontos do torneio.

Os sistemas do tipo Harkness, Brasileiro, e Jugoslavo, são geralmente referidos como derivações da mediana do Solkoff/Buchholz, na acepção matemática do termo.

Refira-se ainda que desde 1990 a FIDE passou a recomendar outros sistemas de desempate para torneios suiços, designadamente a soma do rating dos adversários (em torneios onde toda a gente tenha elo) e o progressivo (que os franceses chamam, com mais propriedade de acumulativo, dado corresponder à soma do total de pontos obtidos, ronda por ronda, subtraindo os pontos obtidos em partidas não jogadas), deixando cair o sistema Solkoff/Buchholz.

Em termos de aplicações informáticas, os dois programas de emparceiramento mais comuns em Portugal, Protos e Swiss Perfect, permitem algumas variações do Solkoff/Buchholz. O Protos tem várias versões pré-programadas, sendo limitado a essas opções, o Swiss Perfect permite definir como se quer usar o Solkoff/Buchholz, possibilitando qualquer tipo de mediana. Nenhum dos dois admite o sistema Jugoslavo.

Luís Costa


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